Sou um olho. Um olho mecânico. Eu, a máquina,
mostro-vos o mundo de um modo como só eu posso vê-lo. Liberto-me hoje e para
sempre da imobilidade humana. Estou em constante movimento. Aproximo-me e
afasto-me dos objetos. Rastejo debaixo deles. Movo-me colada à boca de um
cavalo a correr. Caio e levanto-me juntamente com os corpos que caem e se levantam.
Isto sou eu, a máquina, manobrando entre
movimentos caóticos, registando um movimento após outro, nas combinações mais
complexas. Libero do limite de tempo e de espaço, coordeno cada um e todos os
pontos do Universo, onde quer que eu queira que eles se encontrem. O meu
caminho conduz à criação de uma nova percepção do mundo. Assim, explico, de uma
nova forma, o mundo por vós ignorado. (Citação extraída de um artigo escrito em
1923, por Dziga Vertov, o realizador revolucionário soviético, in Berger,
1980,p. 21).
A paixão segundo G.H. (1965) – – – – – – – – estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não a saber como viver, vivi uma outra? A isso quereria chamar desorganização, e teria a segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: para a organização anterior. A isso prefiro chamar desorganização pois não quero me confirmar no que vivi — na confirmação de mim eu perderia o mundo como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro. Se eu me confirmar e me considerar verdadeira, estarei perdida porque não saberei onde engastar meu novo modo de ser — se eu for adiante nas minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro terá que se transformar para eu caber nele. Perdi alguma coisa que me era essencial, e que ...
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Beijo.