Sou um olho. Um olho mecânico. Eu, a máquina, mostro-vos o mundo de um modo como só eu posso vê-lo. Liberto-me hoje e para sempre da imobilidade humana. Estou em constante movimento. Aproximo-me e afasto-me dos objetos. Rastejo debaixo deles. Movo-me colada à boca de um cavalo a correr. Caio e levanto-me juntamente com os corpos que caem e se levantam. Isto sou eu, a máquina, manobrando entre movimentos caóticos, registando um movimento após outro, nas combinações mais complexas. Libero do limite de tempo e de espaço, coordeno cada um e todos os pontos do Universo, onde quer que eu queira que eles se encontrem. O meu caminho conduz à criação de uma nova percepção do mundo. Assim, explico, de uma nova forma, o mundo por vós ignorado. (Citação extraída de um artigo escrito em 1923, por Dziga Vertov, o realizador revolucionário soviético, in Berger, 1980,p. 21).