Avançar para o conteúdo principal

Translações dos nossos eus

Existem blogues por onde passo, dia após dia. Que os guardo só para mim até não poder mais. A vontade de os partilhar vai convivendo, nem sempre amigavelmente, com a vontade de os guardar.  Gosto de os pensar só meus. Tenho muitas empatias virtuais, confesso. Uma enorme dificuldade de enumerar quem gosto mais, quem levaria  para uma ilha on line e outras.
Bem , mas este apontamento não era, inicialmente , para conversas destas. Quero partilhar com vocês, poucos que por aqui vão teimosamente passando,   um desses blogues com quem vou convivendo, meses a fio, antes de me aventurar a deixar um comentário que seja.
Sim!  qualquer dia escrevinharei algo sobre a minha absoluta timidez em deixar um comentário em certas caixas porque qualquer coisa que possa comentar nunca conseguirá fazer verdadeira fé do que quero dizer e até, eventualmente,  poderá estragar a narrativa.
Bem, mas sem mais delongas (amo este termo - delongas) aqui vos deixo um link para um blogue que gosto  :)




 Olhava para ela. O desejo que me acalentara e mantivera vivo realizara-se. Ela voltou para os meus braços. Mas não era a ela que eu desejava. Era a outra ela que existiu, em mim, através dela. Agora sabia que nunca poderia ser minha. Sabia que nem eu próprio me poderia entregar. Não era eu que ela queria. Era a outro que ela recriara em mim. Existimos nos outros em milhões de versões diferentes. Quantos Andrés percorrem as ruas em mim e eu não vejo? Foram outros nós – que nós desconhecíamos – que talvez se tenham amado.


Continuava a desejar a mulher criada por mim em mim, num momento impreciso e sublime. Ela foi o corpo impossível no qual eu esculpi a minha obra. Mas naquele momento conhecia o embuste. Olhava para ela e sentia desejo. E repulsa. (...)


e vá lendo em "Ainda que os Amantes se Percam..."

Comentários

André disse…
Ora, não é assim tão difícil comentar! Uma pessoa habitua-se; uma pessoa habitua-se a tudo. Obrigado pelas visitas «anónimas», e obrigado pela citação.
mfc disse…
Um blog de que se gosta... ( a mais o teu...!).
beijos,
Angela disse…
me encantei com o texto do André, embora ele sonhe com um Brasil inexistente - para mim, ao menos.
cs disse…
André
obrigada eu pela visita. Volte
cs disse…
mfc
um blogue onde acho que se pensa :))
cs disse…
Angela
gosto daquele desanotomizar as situações, reconstruindo-as e voltando a colocá-las no lugar. Escrita simples de pensamentos estruturados, sem ausência de procura :)
André disse…
Angela, só «conheço» o Brasil dos meus autores dilectos: Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Dalton Trevisan, Manuel Bandeira... E o Brasil dos amigos e conhecidos Brasileiros. E o Brasil de alguns familiares afastados que para aí foram muito antes de eu ter nascido, e aí morreram. Suponho que não exista «um» Brasil, como não existe «um» Portugal. Os países, como as pessoas, são múltiplos, multifacetados... Os países, como as pessoas, por vezes transmitem um imagem que não corresponde à realidade. O que a mim sempre me impressionou, nos Brasileiros que conheço e conheci, é a felicidade que irradiam, apesar das vidas aparentemente tão difíceis...

Bjs.

Mensagens populares deste blogue

"A song for you"

  ‎"A Song for You", é uma canção de 1970 escrita e executada originalmente pelo cantor de rock Leon Russell. Em 05 dezembro de 2011 "a song for you" é la nçada no álbum póstumo Hidden Treasures de Amy Winehouse, gravada na própria casa de Amy. I've been so many places in my life and time I've sung a lot of songs i've made some bad rhyme I've acted out my love in stages With ten thousand people watching But we're alone now and i'm singing this song for you I know your image of me is what i hope to be I've treated you unkindly but darlin' can't you see There's no one more important to me Darlin' can't you please see through me Cause we're alone now and i'm singing this song for you You taught me precious secrets of the truth withholding nothing You came out in front and i was hiding But now i'm so much better and if my words don't come together Listen to the melody cause my love is in there hiding

"Cartas grandes porque não tenho tempo de escrever pequenas"

Eu nunca sei, neste ou naquele caso, o que sentiria.  Às vezes nem mesmo sei o que sinto. ( …) O meu estado de espírito actual é de uma depressão profunda e calma.  Estou há dias, ao nível do Livro do Desassossego. E alguma coisa dessa obra tenho escrito.  Ainda hoje escrevi quase um capítulo todo. Pessoa, F., 1914,   Cartas de Fernando Pessoa a  Armando CôrtesRodrigues (Introdução de Joel Serrão) Lisboa:Conflu~encia, 1944  . 3ª Ed. Lisboa:Livros Horizonte, 1985-36

120 anos depois de Röentgen. 1895-2015

Retirada da internet, a primeira imagem radiológica de  W.K. Röentgen, representa a mão da sua mulher, Bertha É esse desejo ambicioso e ávido, de se apoderar do corpo em beneficio próprio, ou mesmo do espectador, que me parece constituir uma das caraterísticas mais originais de uma imagem radiológica na Medicina Ocidental.CS A partir de uma frase de Claude Lévi-Strauss, antropólogo.  in Berger, J. 1980.  Modos de Ver.  Edições 70