as dos apaixonados de uma noite quando prometem um amor eterno;
as de quem tudo vende, corpo e alma, para subir o preço desses bens;
as dos que inventam histórias inverosímeis em busca de atenção;
as dos médicos, quando compreendem que já não é possível;
as dos candidatos a eleições;
as dos melhores actores, tão perfeitas que se tornam verdade;
as dos padres de todas as igrejas anunciando a salvação;
as mais inofensivas ou as mais perversas;
as mais piedosas ou as mais cruéis;
as que todos descobrem num relance;
as que só se conseguem detectar num momento feroz de lucidez;
as que apenas se dizem ao telefone quando falta a coragem de um olhar;
as que começam por pedir desculpa e geram outras cada vez maiores até que uma só vida se transforme em duas ou três vidas paralelas; as que explodem de súbito, lavadas pelas lágrimas de uma confissão;
as que perduram pela vida inteira como um crime perfeito e levamos connosco para o túmulo.
Sobre elas assenta desde sempre o que chamamos mundo, o que chamamos ainda humanidade.
Como o sol ou a água, sempre foram imprescindíveis para a vida humana e Atlas agradece-as porque tornam mais leve, dia a dia, o peso dos seus ombros.
FERNANDO PINTO DO AMARAL,2009 in POEMAS ESCOLHIDOS 1990-2007
(Pub. Dom Quixote)
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;-)
Anónima
;(