


Há uns dias atrás, ouvia a autora de um estudo para uma Tese de Mestrado, acerca da hipótese de arte ser cancro, baseando o seu discurso num conjunto de fotografias supostamente chocantes, supostamente ARTE, supostamente algo que seria a "normalidade", daquelas doentes.
Se fugia a essa "normalidade" ou não seria um outro estudo? Esse interessa-me. Recordei Susan Sontag.
Quando a tragédia se torna comum. Quando a invasão de certas fotografias entram por direito próprio no nosso o dia-a-dia, terão estas imagens o poder de nos chocar ou o poder de tornar a não “normalidade” um lugar-comum?
E a percepção que temos da realidade sofre alguma erosão com o bombardeamento diário destas imagens “chocantes”? Sontag, Susan, 2003, Olhando o Sofrimento dos Outros.
Aquilo que SONTAG se questionava acerca das imagens de guerra, lembro o clássico, Ensaios sobre Fotografia, não é difícil, hoje, fazer-se a mesma associação, e colocarmos as mesmas questões com imagens de hospitais, de doentes oncológicos, de mulheres com mamas restantes.
As imagens, aquelas imagens podem criar dissensões, e é esta divergência, este contraste que faz delas ARTE?
Não me incomodaram as imagens, são o meu dia a dia e com elas convivo.
É uma questão que me acompanha faz tempo, o uso que se faz hoje da Doença e da dor. A apetência mercantil de imagens de doença, de imagens de dor, sondas, suturas, maquinas frias, de tudo o que dentro do mundo hospitalar, extravasa para um mundo "cá de fora", que consequências tem?
Radiografias em forma de informação, redimensionando sentimentos em momentos de dor.
SONTAG, deixa-nos em 2004, depois de passar por um Sindroma mielodisplásica seguida de uma Leucemia mielóide Aguda aos 71 anos.
Olhando o Sofrimento dos Outros, 2003 a última obra de Susan Sontag.
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Comentários
Você trabalha em que exatamente??
beijo
Eu sou jornalista.
eu trabalho na área da imagiologia médica.
Bom tema para jornalista este. Bom livro para jornalista, este também
:)